quarta-feira, 22 de abril de 2015

O ENCURTAMENTO DAS DURAÇÕES......


Quanto tempo leva para superar a dor da perda? Quanto tempo para digerir uma rejeição? Absorver que um sonho terminou? Esquecer uma frustração? Uma mágoa de infância? Um trauma? Uma demissão? Os psicanalistas provavelmente responderão que é preciso respeitar o ritmo de cada um. Há quem seja rápido na retomada da vida, e há os mais lentos, que necessitam de um acompanhamento mais intensivo. Não há como decretar: dois dias, dois meses, dois anos.
...que a maioria da população não procura psicanalistas. Não têm dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que inquietação.
O passado e o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o presente como nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma resposta? Meses por uma solução?
Na vida burocrática, governamental, a demora ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a maior agilidade possível.
Porém, há tranqueiras e tranqueiras.
Você consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não foram essas as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de assimilar mudanças.
Sentimentos não são regidos por megabytes por segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas – é o curso da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.
Diante da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas.
Basta de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro – aquele aguardando a hora certa de voltar.
Martha Medeiros

O DIA EM QUE MORRI...

- Lígia Guerra -
Estranho? Nem tanto. Se depois de ler esse texto você achar que ainda está vivo, ótimo! Caso contrário, é bom repensar se ainda existe algum sopro de vida aí dentro. Vou contar como tudo aconteceu.
A minha primeira parcela de morte aconteceu quando acreditei que existiam vidas mais importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu chamava isso de humildade. Nunca pensei na possibilidade do auto abandono.
Morri mais um pouquinho no dia em que acreditei em vida ideal, estável, segura e confortável. Passei a não saber lidar com as mudanças. Elas me aterrorizavam.
Depois vieram outras mortes. Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária, desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Daí em diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de pequenas mortes.
Morri no dia em que meus lábios disseram, não. Enquanto o meu coração gritava, sim! Morri no dia em que abandonei um projeto pela metade por pura falta de disciplina. Morri no dia em que me entreguei à preguiça. No dia em que decidir ser ignorante, bulímica, cruel, egoísta e desumana comigo mesma. Você pensa que não decide essas coisas? Lamento. Decide sim! Sempre que você troca uma vida saudável por vícios, gulodice, sedentarismo, drogas e alienação intelectual, emocional, espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e morrer.
Morri no dia em que decidi ficar em um relacionamento ruim, apenas para não ficar só. Mais tarde percebi que troquei afeto por comodismo e amor por amargura. Morri outra vez, no dia em que abri mão dos meus sonhos por um suposto amor. Confundi relacionamento com posse e ciúme com zelo.
Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis. A pior delas? Eu mesma. Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões. No dia em que prestei mais atenção às minhas rugas do que aos meus sorrisos. Morri no dia que invejei , fofoquei e difamei. Sequer percebi o quanto havia me tornado uma vampira da felicidade alheia. Morri no dia que acreditei que preço era mais importante do que valor. Morri no dia em que me tornei competitiva e fiquei cega para a beleza da singularidade humana.
Morri no dia em que troquei o hoje pelo amanhã. Quer saber o mais estranho? O amanhã não chegou. Ficou vazio... Sem história, música ou cor. Não morri de causas naturais. Fui assassinada todos os dias. As razões desses abandonos foram uma sucessão de desculpas e equívocos. Mas ainda assim foram decisões.
O mais irônico de tudo isso?
As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real. 
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas. É dessas que me despeço.

Assinado,
A Coragem
Inspirado no meu livro "Mulheres às Avessas" pela editora Sextante
" O médico perguntou: - O que sentes?
E eu respondi: - Sinto lonjuras, doutor. Sofro de distâncias."

- Caio Fernando Abreu

"Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus."
Eduardo Galeano
“Tem gente que faz terapia, outros apelam para búzios, alguns ainda preferem a tarja preta. Tanto faz. Dê um jeito de ir em frente.”
Clarissa Corrêa.

PRA VOCÊ....

“Que você consiga uma casa maior, mas que quase todos os cômodos fiquem vazios por sua família estar unida ao redor de uma única mesa.
Que você compre o carro dos seus sonhos, e descubra que ele pode ficar parado na garagem enquanto você caminha de mãos dadas por um parque.
Que você realize o desejo de comprar uma TV enorme, 3D, com home theater, mas que ela permaneça desligada durante o jantar, para que você possa ouvir como foi maravilhoso o dia da sua família.
Que sua conta bancária esteja satisfatoriamente recheada, mas sobretudo, que você tenha em seu bolso um ou dois reais para comprar algodão doce e saboreá-lo sujando os dedos.
Que você tenha um excelente plano de saúde, mas que se esqueça que ele existe por não precisar usá-lo.
Que você jante em badalados restaurantes para descobrir que a maior chef que existe, cozinha todos os dias dentro da sua casa.
Que sua internet trafegue em altíssima velocidade, mas que sua melhor rede seja aquela pendurada entre duas árvores, onde você possa ouvir os pássaros cantarem.
Que você tenha um smartphone de última geração, mas que não precise usá-lo para dizer às pessoas mais importantes da sua vida o quanto elas são especiais.
Que você tenha um tablet, mas que use mais as pontas dos seus dedos para fazer cafunés do que para mandar e-mails.
Que você possa comprar boas roupas, bolsas e relógios, mas que sua verdadeira marca seja a “inspiração” deixada pelos lugares por onde passará.
E que assim, conquistando tudo o que você sempre quis, você descubra que mais importante do que aquilo que você tem, é o que você faz com tudo o que conquistou.”
Desconheço autoria
"Se tens um coração de ferro,bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne.
E sangra todo dia."

José Saramago


"Qualquer dia, quando eu desistir de tudo, serei a sombra do impossível novamente. Tua procura na curva dessas tardes. O horizonte dessas tardes. Uma lembrança rasgando o céu dessas tardes. Chuva reluzente. Sensação pausada comprimindo o olhar. Silêncio pro teu chamado. Serei tudo. Caos e distância. Voo e pouso. Um sumiço impedindo algum descanso. Qualquer dia, quando eu desistir de tudo, serei o porto novamente. Lágrima sem fluxo. Tudo, menos essa presença. Menos essa canção que perde a força. Jamais esse aperto que te reacende à medida que o amor me deflora."
Priscila Rôde
"Estou com sede de mudanças, 
mas não quero arrastar os móveis,
nem desentortar os quadros. 
Quero desabitar meus hábitos."

Marla de Queiroz
"Mais importante do que me danei é: 
não morri!!".
Ita Portugal
"Dizem que quando a gente acorda no meio da noite pensando em alguém, significa que ela também está pensando em nós. Eu acho isso uma grande bobagem, dessas bobagens que eu gosto de acreditar. Se a gente não tem muito a perder o melhor é acreditar mesmo, ainda mais no meio da noite, depois de ter perdido o sono. Queria mesmo que você pensasse em mim de vez em quando. É tão difícil carregar uma saudade sozinho."
Bruno Fontes
"Uma vez, gostei de uma pessoa, mas ela não gostou de volta. Escrevia sobre o amor, que só sabia viver na teoria. Percebeu o meu entusiasmo e deixou claro que eu só podia estar louca. Gostei sozinha.
Outra vez, me apaixonei por alguém cheio de diplomas, idiomas fluentes, com passaportes carimbados e compromissos constantes. Olhei e pensei que talvez não fosse só o perfume, ou o jeito que ele me dava bom-dia. Ele nunca notou meu sentimento e eu, morrendo de vergonha que ele soubesse, me afastei. Fiquei sozinha.
Depois, troquei olhares despretensiosos com quem me via além da conta. Eu achei o máximo aquela sintonia toda. Mas era tudo um simples passatempo. Percebi que já era hora de ir embora. Caminhei sozinha.
Certo dia, ouvi Photograph, do Nickelback tocar na programação musical do meu trabalho. Disquei um número às pressas e corri com o celular nas mãos, até a caixa de som mais próxima, dizendo: - Amor, escuta! Nossa música! Só ouvi uma respiração entediada do outro da linha, pedindo para eu parar com aquela babaquice toda. E eu parei. Cantei sozinha.
Às vezes, para aprender a amar, você precisa ficar em silêncio e entender o que esse sentimento te causa. Se te faz falta ou te sobra. Quem é sozinho sabe o valor que ele tem, porque aprendeu desde cedo a arte de mudar e se adaptar.
A vida me ensinou que o amor precisa chegar, mas, que antes disso, precisamos ir embora de nós mesmos muitas vezes.
Para adentrar um coração, use as portas. Se elas estão fechadas, não force as janelas."
Aryane Silva