sexta-feira, 29 de abril de 2016


Dez verdades eternas que aprendi com “O Pequeno Príncipe”
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Por Nara Rúbia Ribeiro
Quando menina, eu não tinha muitos livros. Na verdade, até os seis anos de idade não tinha nenhum. Foi aí que alguém presenteou a nossa família um exemplar de: O Pequeno Príncipe.
Assim se deu a minha estreia no mundo sem precedentes da literatura, e do principezinho… Passava horas olhando as letras e namorando as aquarelas do Saint-Exupéry. Minha mãe leu a história para mim e para o meu irmão por diversas vezes. Até que um dia ela emprestou o livro e nunca mais o vimos.
Então, não foi por acaso que, logo que comecei a trabalhar tratei de comprar outro exemplar. Ainda era adolescente quando sublinhei as frases que mais me marcaram e foram inúmeras as anotações no rodapé e nas laterais.
Eu cresci. Envelheci. Mas como tenho alma de poeta, ouso asseverar que a única sabedoria verdadeira é aquela com as cores da infância. O elevado só pode ser visto no simples, no puro, na singeleza daquele que olha o mundo com olhos desprovidos de blindagens e arestas.
Nesse exercício de regressar infâncias, eis as verdades que aprendi:
1 – “Os baobás, antes de crescer, são pequenos.”
Nunca deixar para amanhã a minha faxina interior.
2 – “É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”
Preciso ter paciência com as minhas próprias limitações até as minhas asas ficarem prontas.
3 – “É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar – replicou o rei. A autoridade baseia-se na razão.”
É desumano exigir do outro a entrega de algo que não lhe pertence. Não posso administrar a posse do outro, muito menos poderia administrar as suas lacunas. Assim, que eu cuide, então, das minha carências!
4 – “Tu julgarás a ti mesmo – respondeu-lhe o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”
Pensar na vida alheia, nas qualidades alheias é uma distração medíocre. Mais vale o autoconhecimento do que ter decorado a biografia de centenas de outros.
5 – “As estrelas são todas iluminadas… Será que elas brilham para que cada um possa um dia encontrar a sua?”
O universo colabora, dando-nos a luz de indizíveis estrelas. Resta-nos treinar a própria visão para que as saibamos enxergar.
6 – “Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás, para mim, único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”
As pessoas se permitem cativar por vontade. Talvez inconscientemente, mas por vontade própria. Quando existe um laço assim, de encantamento construído, nenhum silêncio e nenhuma distância lhe pode vencer.
7 – “A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.”
O homem, na pressa cotidiana, habituou-se à superfície das coisas, dos relacionamentos. Habituou-se à superfície de si. Por isso estamos tão distantes da verdadeira saúde mental. É essa pressa que faz adoecer os homens.
8 – “O essencial é invisível aos olhos.”
Tudo o que vemos é provisório, parcial. Distorcida é a realidade que nos cerca. Aquilo que de fato é ressoa no abstrato, tem vigas invisíveis na alma e não cabe na palma de nenhuma mão.
9 – “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”
A importância do outro não reside no outro. Reside em nossa aptidão interior de dispensar a ele o melhor de nós mesmos. É o nosso coração que faz com que o outro se torne tão especial.

10 – “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Talvez a frase mais famosa do livro. É uma assertiva que dispensa explicação. Toda e qualquer fala seria inútil. Se quiseres compreender, exercita-te. Cativa! E cativa-te primeiro a ti. Só assim dimensionarás a responsabilidade de tudo aquilo que é eter
no.
Mãe, eu preciso ir..
Mãe
Talvez você demore a compreender, talvez você chore incontáveis noites por ver o ninho vazio, talvez você me ligue com aquela voz embargada, sofrida, de quem está guardando um mundo de saudade em um nó na garganta, mas mãe, eu tenho que ir.
Tenho que aprender a separar a roupa por cores na hora de lavar, tenho que descobrir que a louça continua na pia no dia seguinte, que cheiro de banheiro limpo é bom, principalmente quando fui eu que limpei.
Tenho que aprender a cozinhar mais coisas além de macarrão com salsicha, conto com a internet para me ajudar com isso. Tenho que aprender que o meu salário precisa durar 30 dias e que balada e cerveja não são lá as necessidades mais básicas.
Tenho que me sentir só, tenho que falar para as outras pessoas “minha mãe sempre diz que..” e sentir orgulho dos inúmeros conselhos que você me deu na vida e nem sempre eu dei muito valor. Tenho que identificar as amizades ruins, coisa que você fazia por mim antes, tenho que ser forte e segurar aquele palavrão que o meu chefe merecia mas você me ensinou que um profissional sério não sai de si tão facilmente.
Tenho que criar meus próprios ritos de sábado à tarde, que antes eram fazer bolo e dançar loucamente na cozinha com você. Tenho que tirar o pijama aos domingos, fazer almoço, fazer o jantar e não simplesmente ler um livro enquanto espero que você faça tudo por mim.
Tenho que assistir aquele filme incrível sem companhia e não ter ninguém pra chorar timidamente comigo, tenho que sentir falta do abraço que era a fortaleza que eu precisava em um dia ruim e da sinceridade que me ensinava a ser um ser humano melhor todos os dias.
Mas não pense que é fácil para mim, vai doer todos os dias da minha vida, não voltar para casa e ver seu sorriso tranquilo, poder contar cada detalhe do dia e não sentir um mínimo sinal de tédio no seu rosto.
Vou sentir saudade mesmo quando eu tiver dois filhos, mesmo quando eu tiver oitenta anos, mesmo quando eu tiver escrito o melhor livro da história.
Preciso ir mãe mas te levo sempre comigo.
Samanta Selzler




Recado para os cansados: ainda dá tempo. Para os desiludidos: ainda dá tempo. Para os frustrados: ainda dá tempo. Para os desistentes: tente um pouco mais. Você respira? Então ainda dá.
Martha Medeiros