segunda-feira, 25 de maio de 2015

Oi, como vai?


Há tempo não nos falamos.
Mas hoje, não venho com palavras de ódio, nem te culpar por nenhum episódio, tampouco me colocar em cima de um pódio.
Sim, houve um tempo. Tempo em que desejei cascas de banana na sua calçada, um bicho gordo na sua goiaba, 28 pedágios na sua estrada.
Também não vim te acusar, nem te mandar se lascar, muito menos te pedir pra voltar.
A mágoa foi inevitável, mas se história é imutável, talvez tenhamos que pensar num caminho alternativo viável.
Vim perguntar se você está bem, se continua tendo sonhos do além, se contou dos seus medos para mais alguém.
Se seu pai largou o cigarro, se você conseguiu trocar de carro, se houve algo entre a gente que não tenha ficado claro.
Vim dizer que lembrei de você. Porque finalmente comi cordeiro, porque ri conversando com meu porteiro, porque nosso verão foram anos inteiros.
Vim com bandeira branca, sem qualquer indício de cobrança, apenas me divertindo com algumas lembranças.
Vim te contar que encontrei aquela nossa conhecida, a que foi morar em Aparecida, e que ela tá com a bunda super caída.
Vim contar que vi seu colega de trabalho, que ele tá meio grisalho, mas que ainda dá pra quebrar algum galho.
Vim falar de coisas que ninguém mais entenderia, que achei as fotos daquela viagem para a Bahia e que finalmente tem açaí aqui na minha padaria.
Não vim criticar sua nova paquera, nem retomar aquele clima de guerra, nem dizer qualquer coisa que não seja sincera.
Vim te dizer que está tudo ok, que eu tive uma doença, mas sarei, e que aquele meu vizinho, de fato, é gay.
Não vim te propor uma bela amizade, um sorvete no fim da tarde e nem um fim de história marcado por vaidade.
Vim pra te desejar alguma sorte, vim porque já voltei a ser forte e porque sei que memória não respeita pena de morte.
Vim te deixar um abraço, porque te querer bem é o melhor que eu faço e porque, afinal, já chega desse cansaço.
Vim te dizer para ficar em paz, para respeitarmos o que deixamos para trás e para propor, enfim, que a gente não se queira mal, apenas não se queira mais.
-Ruth Manus-

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O que restou do que nunca existiu..... Ensaio sobre o fato de eu não me lembrar dos seus detalhes...


Eu não me lembro mais dos seus detalhes. Sei que, um certo tempo, quando eu pensava em você, minha memória fazia um zoom em algum gesto seu que esqueci qual era. Talvez, um jeito no pescoço que ninguém mais, no mundo, fazia. Só você. Ou um movimento no cantinho da boca, bem na esquina do sorriso. Algo que, de tão seu, já acontecia involuntariamente. Mas, hoje tenho dúvidas se era isso mesmo.

Tinha todos esses detalhes catalogados na minha cabeça. E, no meu pensamento, seu retrato não era um corpo completo. Era um movimento escondido e tão discreto que só eu enxergava porque estava apaixonada.

Você é o passado de um presente que nunca existiu. Tão inexistente que nem sei bem o que eu não lembro mais a seu respeito.

Parece que era um andar meio pendente de uma lado para o outro, meio preguiçoso... Mas, já não posso garantir.

Queria escrever sobre seus detalhes. Isso faz tempo. Tinha muita coisa para dizer sobre eles. Guardei para depois. Um depois tão longe que o tema deixou de fazer sentido.

Sofro de um complexo sobre o qual Freud nunca falou. Complexo de sacralidade. Tudo tem que ser tão perfeito e tão sagrado que nunca acontece. Estou sempre esperando o momento certo, em que as palavras vão fluir facilmente porque meu cérebro vai conseguir decodificar a confusão de meus sentimentos absurdamente abstratos e de uma subjetividade tão forte que, normalmente, não descolam de mim.

Esperei esse momento sagrado para escrever sobre seus gestos, movimentos e detalhes. O momento chegou, hoje. Mas, chegou tarde. E o cenário mudou. Pensei que estava tudo, ainda, bem guardado, dentro de mim. Ia ser uma crônica linda. Um poema ou um ensaio, inspirado, sobre como eu via você quando estava apaixonada. Mas, esqueci os seus detalhes.

(desconheço o autor)


"Da minha saudade você só sabe a parte que eu conto,
mas a parte que eu sinto é que me parte."

Wendel Valadares
"Agradeço a todas as decepções que tive que enfrentar ao longo da vida. Inclusive as que vieram de mim e para mim, porque já me decepcionei comigo inúmeras vezes.
Agradeço aos tombos todos que tive que levar até que aprendesse a me levantar sozinha. Agradeço sim, a cada dificuldade. Não fossem elas não teria aprendido a sair do lugar.
Agradeço aos amigos que não foram meus amigos. Aos amores que tive pela metade, pois foram eles que me tornaram inteira. Aos que me deram menos que eu esperava; aos que me ofereceram menos que eu merecia, pois só assim aprendi o meu real valor.
Agradeço, porque todos eles me cegaram a tal ponto de me abrirem os olhos. Me fizeram enxergar as verdades da vida. Sem filtros. Sem ilusões. Sem dramas. Sem mágoas. Então deixo aqui registrado e com firma reconhecida, de coração: o meu muito obrigada!"
Virgínia Mello