quarta-feira, 12 de setembro de 2018

hoje eu descobri que você se apaixonou por outra pessoa.
não tive vontade de chorar, de gritar pela sua volta ou suplicar encarecidamente pra que se lembrasse de tudo o que vivemos juntos.
não tive vontade de voltar ao tempo em que tua existência ainda se entremeava a minha em meio a um desabafo em que se parecia compreender e sentir como um só,
ou da conexão singular que se formava com os nossos rostos próximos, dedos que perpassavam os traços e a tentativa de guardar o cheiro do outro pra sempre.
todo esse tempo eu achei que ainda amava você. e, de fato, acho que ainda amo. e sempre vou amar. porque você me fez bem de uma forma que torna inviável te olhar com qualquer outra perspectiva que não seja uma repleta de carinho e gratidão.
mas eu não sou mais apaixonada por você.
acho que, talvez, ainda seja pelas memórias que construímos juntos. porque você saiu da minha vida de forma tão abrupta e fez tudo parecer tão fácil, tão simples, tão indolor
você pareceu estar tão indiferente, tão feliz
e eu senti que o nosso amor tinha sido grande demais para ser esquecido daquela forma. guardei você e todos os nossos momentos juntos em um pedaço meu, e só meu. porque não aceitava que nossa história fosse só mais uma perdida entre tantas outras, sendo que sentimos de forma tão intensa e única. eu, pelo menos, senti.
eu admito: não te conheço mais. não sei por quais mudanças sua personalidade, manias, gostos e medos passaram desde o nosso adeus. eu não sei mais quem você é, não sei se as coisas que fizeram com que eu me apaixonasse por ti ainda se mantém. e eu demorei muito a entender, mas percebi que não preciso me agarrar a todos os nossos momentos como se fossem a minha salvação. porque o ato de eu existir, por si só, e continuar com o desejo de me entregar a tudo e todos com a maior força e intensidade que sou capaz me mostram que eu, todos os dias, pouco a pouco, me salvo de mim mesma.
assim,
te deixo ir porque, mesmo que involuntariamente, você me ensinou que esse é o maior ato de amor que podemos demonstrar por alguém, às vezes.
então, da maneira que posso, mesmo de longe, mesmo que minimamente, e mesmo que não de uma forma romântica,
eu vou te amar todos os dias
porque você me ensinou o que é amor
e o nosso foi tão incrível que,
mesmo com a sua partida,
amar você é a única coisa que ainda sei fazer.
(Isadora Klauck)
 
O tempo errou com o nosso amor. A distância também. A nossa história seria única se não tivéssemos chegado tão tarde na vida um do outro. Você sabe que as nossas frases se completam, você sabe que os nossos sonhos se cruzam na mesma esquina, você sabe que nossos corpos foram feitos sob medida para caber o amor que tínhamos para oferecer. Somos uma história que terminaria com um final feliz. Só nos faltou a oportunidade de escrever a primeira página.
Instagram: @ressacaimoral 
Neto Alves


Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!

 

Lembro-me bem.

Foi quando julho se foi, que um vento mais gelado, mais destemperado, que arrastava ainda folhas deixadas pelo outono, me disse algumas verdades. Convenceu-me de que o céu começaria a apresentar metamorfoses avermelhadas. Que a poeira levantada por ele daria lições de que as coisas nem sempre ficam no mesmo lugar e que é preciso aceitar que a poeira só assenta depois que os redemoinhos se vão.

Foi quando julho se foi que a minha solidão me convidou para uma conversa. E me contou de tempo de esperas. E me disse que o barulho das árvores tinha algo a dizer sobre aceitação. E eu fiquei pensando como elas, as árvores, aceitam as estações que, se as estremecem, também lhes florescem os galhos. Mas tudo a seu tempo.

Foi em agosto que descobri que os cachorros loucos são, na verdade, os uivos que não lançamos ao vento. São nossos estremecimentos particulares que a nossa rigidez de certezas não nos permite encarar.

O mês de agosto tem muito a ensinar. Porque agosto é mês jardineiro, é dentro dele, berço do inverno, que as sementes dormem. Aguardam seu tempo de brotar. Agosto é guardador da boa-nova, preparador de flores. Agosto é quando Deus deixa a natureza traduzir visivelmente o tempo das mutações.

Mude, diz agosto, em seu recado de sementes.

Aceite, diz agosto, com seu jeito frio de vento que levanta poeira e a faz avermelhar o céu.

Compartilhe, diz agosto. Agasalhos, sopas quentinhas, cafés com chocolate, abraços mais apertados – eles também aquecem a alma e aninham o corpo.

Distribua mais afetos, que inverno é acolhimento, é tempo de preparar setembro.

E, de setembro, todos sabemos o que esperar.

Esperamos a arrebentação das cores, que com seus mais variados nomes vêm em forma de flores.

Vamos apreciar agosto, recebê-lo com o espanto feliz de quem não desafia ventos. Que ele desarrume e espalhe suas folhas e levante suas poeiras.

 

Aceite as esperas, mas coloque floreiras na janela.
Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!

 

Miryan Lucy de Rezende
Escritora e Educadora Infantil

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Diz uma parábola judaica que certo dia a mentira e a verdade se encontraram.
A mentira disse para a verdade: 
- Bom dia, dona Verdade.
E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam e vendo que realmente era um bom dia, respondeu para a mentira:
- Bom dia, dona mentira. 
- Está muito calor hoje, disse a mentira.
E a verdade vendo que a mentira falava a verdade, relaxou. 
A mentira então convidou a verdade para se banhar no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:
-Venha dona Verdade, a água está uma delícia. 
E assim que a verdade sem duvidar da mentira tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.
A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua. 
E aos olhos de outras pessoas era mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua."
VOAR

Passamos uma vida presos 
Qual pássaros em suas gaiolas! 
Medo de amar! 
Medo de olhar a vida de frente! 
E naquele pequeno espaço, 
Cantamos nossas dores e sonhos! 
Muitas vezes se abrem 
As portas de nossas gaiolas 
Mas permanecemos ali 
Acostumados... 
Encolhidos... 
Nas nossas vontades e sonhos! 
Não tenhamos dúvidas! 
À primeira oportunidade 
Devemos alçar 
O vôo dos falcões! 
Calmo 
Confiante 
Determinado 
Amar sem medo! 
Brincar um pouco com a vida! 
Não ter medo dos rochedos! 
E sobre eles 
Estender nossas asas 
Corajosas de falcões! 
E sair em busca 
De nossos sonhos! 
Como o Condor... 
Tentar enxergar 
As pequeninas coisas à nossa volta 
E saber apreciá-las! 
Dando um sentido novo 
À nossa vida! 
Não sermos como pássaros de gaiolas, 
Mas, Falcões e Condores do céu! 
A cada dia existe 
Uma renovação constante 
E nunca um dia 
Será como o outro... 
Não há dores eternas! 
Não há lágrimas eternas! 
Não há perdas eternas! 
Há sorrisos esperando-nos... 
Dias de sol 
O abraço dos amigos, dos filhos. 
E tantos sonhos lindos! 
Um amor nos espera 
Para voar... voar... voar... 
Porque a vida 
É um recomeçar diário 
De um vôo! 
E gaiolas 
não foram feitas 
Para pássaros 
Tampouco para Falcões!




Os Sequilhos Com Goiabada                                           (ou “O Problema é Comigo”)



“Criei o costume de toda semana comprar sequilho com goiabada na padaria perto daqui de casa. Comê-lo bebendo um café sem açúcar tornou-se, sem exagero, um dos momentos mais deliciosos da semana (tirando o dia da coxinha com café). Mas a goiabada me incomodava. Não necessariamente ela, mas sua pouca quantidade. Era um pingo no meio do sequilho. 
Reclamei na padaria, chamei o padeiro de casquinha e tudo mais. 
Outro dia, voltando do estágio, passei pela padaria e, pra minha sorte, disseram que havia um sequilho especial pra mim. Lá estava, o meu sonho num sequilho de um real. Quase que completamente coberto de goiabada. 
Chegando em casa, preparado o café e toda a ritualística necessária para consumir o apetecível sequilho, ocorreu que não comi nem a metade. Enjoei na segunda mordida. Doce demais, chegava a dar náuseas. 
Dia seguinte, cheguei na padaria e lá estava: outro sequilho coberto de goiabada. Me ofereceram e, por vergonha de dizer que odiei o do dia anterior, comprei. Em casa, raspei a goiabada e comi. 
O problema, o inferno, não era a goiabada nem o padeiro, era eu. Fui eu quem, amando o que amava, queria do meu jeito, sem entender que eu gostava era do jeito que era, porque se do meu jeito fosse, eu rejeitaria, enjoaria e até tentaria fazê-lo voltar a ser como era. 
Assim fazemos com as pessoas também. No início as amamos como são, depois que estão conosco começamos a criticar, tentamos mudá-las, tentamos “colocar do nosso jeito”, sem saber que nosso jeito são nossas projeções, pessoas que não existem, e que se existissem, enjoaríamos delas. 
Transformamos para descartar, porque quando aquela pessoa muda, muito provavelmente quem gostávamos não está mais lá. 
Essa semana voltei a padaria, pedi o sequilho sem goiabada e mandei avisar ao padeiro que o próximo texto quem escreve é ele, provavelmente virá algo de bom, ainda que não seja doce.
Abençoados sejam meus amigos cada qual a sua maneira e o seu jeito de ser.”

Jonathan Araújo
eu sempre fui a estranha no ninho
a menina que fazia esforço pra se encaixar, mas no fundo não tinha a menor vontade de se esforçar tanto
por lutas que não eram suas
depois de muitos anos
me afastei muito de tudo e de todos porque precisava respirar
deixei de tentar encontrar em outros uma salvação
e passei a investir tudo que tenho no meu tratamento
pra que, dessa vez, o meu próprio corpo
e a minha própria alma
se tornassem todo o conforto de que preciso.
assim, a minha moradia tornou-se o meu interior
às almas dos outros
agora faço apenas visitas rápidas.

(TCD)

Conselho de uma mãe idosa à uma jovem.


Ao conversarem sobre a vida, o casamento, as responsabilidades da vida, as obrigações das pessoas adultas, a mãe disse o seguinte à sua filha:
“Nunca esqueça suas “Irmãs! ” Serão mais importantes na medida em que você envelhecer. Independentemente, do quanto você ame seu marido, dos filhos, ou dos netos que porventura venha a ter, você sempre precisará de suas “Irmãs“.
Lembre-se de ocasionalmente ir a lugares com elas; faça coisas com elas; telefone para elas, convide para um café, um passeio, um lanche à tarde, uma ida ao shopping, uma conversa franca, uns minutos de oração…
A jovem sorriu e pensou: “A memória da mamãe não está boa, eu não tenho irmãs!”
E a mãe continuou;
Lembre-se que ‘Irmãs’ significa todas as mulheres; suas amigas, filhas, irmãs em Cristo, vizinhas e também todas as demais parentes. Você precisará de outras mulheres.
Que estranho conselho! Pensou a jovem.
Acabo de ingressar no mundo dos casados. Sou adulta. Com certeza meu marido e a família que iniciaremos serão tudo que necessito para dar sentido à minha vida!
Contudo, ela obedeceu à mãe. Manteve contato com suas Irmãs e anualmente aumentava o número de amigas.
Na medida em que os anos se passavam, ela foi compreendendo que sua mãe sabia do que falava. Na medida em que o tempo passa, a natureza realiza mudanças e mistérios sobre uma mulher. “Irmãs” são baluartes em nossa vida.
Em 50 anos, eis o que aprendi:
O tempo passa… A vida acontece… A distância separa…
As crianças crescem…
Os empregos vêem e vão …
O amor fica mais fraco ou vai embora…
Os homens não fazem o que deveriam fazer… O coração se rompe…
Os pais morrem… As carreiras terminam…
Mas… as “Irmãs” estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilômetros estão entre vocês.
Se vc tem alguma pessoa que considera irmã, e quer manter na sua vida, oferte esta mensagem à ela e à outras mulheres que ajudam a dar sentido à sua vida.
Uma amiga nunca está tão distante, mais do que ao alcance de uma necessidade, torcendo por você, intervindo em seu favor, e sempre aberta a um abraço.
 Autor desconhecido

quarta-feira, 28 de março de 2018

eu queria saber mais de você, qualquer detalhe que me fizesse te admirar um pouco mais. hoje, nesse exato momento, eu te admiro pelo que eu não sei sobre ti. prefiro te desconhecer.


quinta-feira, 22 de março de 2018

Onde quer que você esteja, seja a alma deste lugar...
Discutir não alimenta. 
Reclamar não resolve. 
Revolta não auxilia. 
Desespero não ilumina. 
Tristeza não leva a nada. 
Lágrima não substitui suor. 
Irritação intoxica. 
Deserção agrava. 
Calúnia responde sempre com o pior. 
Para todos os males, só existe um medicamento de eficiência comprovada. 
Continuar na paz, compreendendo, ajudando, aguardando o concurso sábio do Tempo, na certeza de que o que não for bom para os outros não será bom para nós...
Pessoas feridas ferem pessoas.
Pessoas curadas curam pessoas.
Pessoas amadas amam pessoas.
Pessoas transformadas transformam pessoas.
Pessoas chatas chateiam pessoas.
Pessoas amarguradas amarguram pessoas.
Pessoas santificadas santificam pessoas.
Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor.
Acorde…
Se cubra de Gratidão, se encha de Amor e recomece… 
O que for benção pra sua vida, Deus te entregará, e o que não for, ele te 
livrará! 
Um dia bonito nem sempre é um dia de sol…
Mas com certeza é um dia de Paz.

Chico Xavier

Não preocupem-se com os maldosos, caluniadores, falsos e mentirosos. Geralmente eles andam em bandos e reúnem-se a mesa para compartilhar vidas alheias servidas em pratos vazios.
Se teu coração e sua alma está livre e em paz, certamente eles estão muito distantes de poder interferir em sua sagrada ceia...

“Ignorar quem nos quer infelizes, quem é chato pra caramba, quem fofoca sem parar. Ignorar gente mal amada, palavras de desânimo, palpites indevidos. Ignorar.” Ultimamente, ter paz tornou-se artigo raro, daqueles que logo só se verão nos museus da vida, afinal, estamos cada vez mais atarefados, assoberbados, desmotivados, decepcionados.


‘Se você engolir tudo que sente, no final você se afoga’
Engole o choro. Engole sapo. Não diga, não quero saber. Cala a boca, cala o peito, cale-se! Mas o corpo fala, e como fala. Fala a ponta dos dedos batendo na mesa, fala o dente acirrado, rangendo estridente. Falam os pés inquietos na cama. Falam os olhos caindo tristonhos. Fala dor de cabeça, dor na alma. Fala gastrite, psoríase, fala ansiedade, fala memória perdida. Fala o corpo curvado, fala o nó na garganta atravessado. Fala angústia, fala ruga. Fala insônia, fala sono demasiado. Falador.
É impossível entrar no tatame da vida sem levar uns tapas dela. Mágoa, tristeza, dor, raiva, são sentimentos que nos atravessam sem pedir licença. A verdade é que enquanto estamos sentados na pedra fitando o abismo em dor, mastigamos as emoções, mas nem sempre as digerimos bem. Emoções engolidas e não digeridas corroem feito ácido. É bicho morando no estômago, mordente, cáustico. É soda! Emoções indigestas são como bruxas trancafiadas no corpo. Medonhas, a carregar sensações malditas e mal ditas. Ninguém quer saber de falar de sentimentos mal cheirosos. Então a gente engole, e esse mal entendido vira coisa que entra no estômago, percorre a garganta, o peito, e se deixarmos, calará nossa boca e nossa paz por uma vida inteira.
E aí, cedo ou tarde, todas as dores do mundo hão de querer vomitar, regurgitar o mal resolvido, e nos contorcer novamente as entranhas. É preciso um pouco de coragem para se fazer falar. Emoção amordaçada nos faz refém dela. Dor tapada, cala necessidade. Mágoa não entendida, enfarta a fé nas pessoas. Raiva carregada, pesada, transita ardente pelas costas. Não dá pra engolir tudo e dizer amém! Eu sei. Também não dá pra cometer sincericídios por aí. Mas dá para expressar. O que se sente cabe tradução.
Freud disse certa vez: “a ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como são umas poucas palavras boas”. É isso, tem hora que o sentimento pede pra ser dito, entendido, descodificado, traduzido. Tudo que ele quer é ser exorcizado pela palavra ou pela via que lhe cabe melhor. Expressar tranquiliza-a-dor. Dor não é pra sentir pra sempre. Dor é vírgula.
Então diz! Diz logo o que quer dizer sua bruxa. Coloca a dor no caldeirão e faz sopa de letrinhas. Faz uma carta, um poema, um livro. Faz uma orquestra tocar. Pega as sapatilhas, sapateia. Faz uma aquarela. Faz uma vida. Faz lá, sol, manda a dó se catar. Faz piada, faz texto, faz quadro, faz encontro com amigo. Faz corrida no parque. Fala pro seu analista, discute com Deus, se pinta de artista. Conversa sozinho, papeia com seu gato, berra aos céus, mas não se cala. Fala, vai. Pois “se você engolir tudo que sente, no final você se afoga”. É que emoções indigestas e encarceradas mergulham no coração mais tarde para explodi-lo.
E aí, me diz, quem será capaz de nos juntar? Jamais a mágoa e toda a lama que ela carrega será melhor do que a nossa paz.Ruth Borges


Procura-se um amante




Muitas pessoas têm um amante, e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são estas últimas que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insonia, apatia, pessimismo, crises de choro, ou as mais diversas dores. 

Elas contam-me que as suas vidas correm de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar o tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente a perder a esperança. Antes de me contarem tudo isto, já tinham estado noutros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "Depressão"... além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, depois de as ouvir atentamente, eu digo-lhes que elas não precisam de nenhum anti-depressivo. Digo-lhes que o que elas precisam é de um Amante!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem o meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa destas ?!". 

Há também as que, chocadas e escandalizadas, despedem-se e não voltam nunca mais. Às que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico-lhes o seguinte:

Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...

Enfim, Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"?
"Ir vivendo" é ter medo de viver.

É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva.

"Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.
Por favor, não se contentem com "ir vivendo". Procurem um amante, sejam também um amante e um protagonista da vossa vida...

Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:
"Para se estar satisfeito, activo, e sentirem-se jovens e felizes, é preciso namorar a vida".

Texto: Dr. Jorge Bucay 
Livro: "Hay que buscarse un Amante" 


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018


DIÁRIO DE UM CINQUENTÃO NA ACADEMIA.




Acabei de completar 56 anos.
Minha mulher me presenteou com uma semana de treinamento físico em uma boa academia. Estou em excelente forma, mas achei boa idéia diminuir minha “barriguinha”.
Fiz reserva com a “personal trainner” Nádia, instrutora de Aeróbica e modelo de 26 anos. Foi-me recomendado levar um diário para documentar meu progresso, que vai transcrito a seguir.
*Segunda-feira*
Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena.
Nádia parecia uma deusa grega: ruiva, olhos azuis, grande sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Inicialmente, fizemos um tour pela academia para conhecer os aparelhos.
Comecei pela bicicleta. Ela me tomou o pulso, depois de 5 minutos, e se alarmou, pois estava muito acelerado. Não era a bicicleta, mas ela, vestida com uma malha de lycra coladinha. Desfrutei do exercício. Ela me motiva muito, apesar da dor na barriga, de tanto encolhê-la, toda vez que ela passa perto de mim.
*Terça-feira*
Tomei café e fui para a academia.
Nádia estava mais linda que nunca. Comecei a levantar uma barra de metal. Depois ela se atreveu a por pesos! Minhas pernas estavam debilitadas, mas consegui completar UM QUILÔMETRO. O sorriso arrebatador que Nádia deu me convenceu de que todo exercício valeu a pena… era uma nova vida para mim.
*Quarta-feira*
A única forma de conseguir escovar os dentes foi colocando a escova sobre a pia e movendo a cabeça para os lados.
Dirigir também não foi fácil: estender os braços para mudar as marchas era um esforço digno de Hércules, doía o peito e minhas panturrilhas ardiam toda vez que pisava na embreagem. Fisicamente impossibilitado, estacionei meu carro na vaga para deficientes físicos, até porque, saí mancando.
Nádia estava com a voz um pouco aguda a essa hora da manhã e quando gritava me incomodava muito. Meu corpo doeu inteiro quando ela me colocou uma cinta para fazer escalada.
Pra que merda alguém inventa um treco pra se escalar quando isso já está obsoleto com os elevadores? Nádia me disse que isso me ajudaria a ficar em forma e desfrutar a vida… ou alguma dessas merdas de promessas.
*Quinta-feira*
Nádia estava me esperando com seus odiosos dentes de vampiro escroto.
Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei pra colocar os sapatos. A desgraçada me colocou para trabalhar com os pesos.
Quando se distraiu, saí correndo e me escondi no banheiro. Mandou outro treinador me buscar e como castigo me pôs a trabalhar na máquina de remar… me estrepei todo.
*Sexta-feira*
Odeio essa desgraçada.
Estúpida, magra, anêmica, chata e feminista sem cérebro!
Se houvesse uma parte do meu corpo que pudesse se mover sem uma dor angustiante, eu partiria no meio a vaca que pariu essa xexelenta.
Ela quis que eu trabalhasse meus tríceps… EU NEM SEI O QUE É ESSA BOSTA DE TRÍCEPS, QUE SACO!!!
E se não bastasse me colocar o peso para que o rompesse, me colocou aquelas merdas das barras… A bicicleta me fez desmaiar, e acordei na cama de uma nutricionista, uma idiota com cara de mal amada que me deu uma catequese de alimentação saudável, claro.
*Sábado*
A lazarenta me deixou uma mensagem no celular com sua vozinha de lésbica assumida, perguntando-me por que eu não fui.
Só com a vozinha me deu gana de quebrar o celular, porém não tinha certeza se teria força suficiente pra levantá-lo; até mesmo pra apertar os botões do controle remoto da tevê tava difícil…
*Domingo*
Pedi ao vizinho pra ir à missa agradecer a Deus por mim por essa semana que terminou.
Também rezei pra que o ano que vem, a infeliz da minha mulher me presenteie com algo um pouco mais divertido, como um tratamento dentário de canal, um cateterismo ou, até mesmo, um exame de próstata.



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


NÃO HAVERÁ EMAIL DE MADRUGADA
Rapazes, eu tenho um talento secreto. Sou ótima pra escrever e-mails
românticos de madrugada. Somente um seleto grupo de cavalheiros tem
acesso a essa biblioteca privada. Mas eu estou aqui pra anunciar que o clube
fechou. Deixem em branco os formulários. Cancelem os boletos bancários.
Rasguem as carteirinhas. O clube fechou por razões sanitárias e de insanidade.
Parei.

Parei de despejar meu coração como leite morno digital. Minha doçura era puro
aspartame. Me dava taquicardia e atormentava os pensamentos, me levando a
construir frases insanas como: “Não deu certo, mas tudo bem. Vamos tentar na
próxima vida.” Mentira. Não tá tudo bem. Você foi péssimo. Por favor, não me
procura na próxima vida. Eu te amei de verdade, mas sério: fica longe de mim.

Parei de planejar minhas palavras como quem arquiteta uma armadilha. Sei
escrever o que vocês querem ouvir. Finjo como uma poetisa de verdade,
acreditando piamente em cada palavra. Sou ótima pra seguir direções, e vocês
as espalham da mesma forma que largam meias sujas pelo chão. “Não consigo
dormir, fico pensando em você." E quando eu te tenho manso e feliz dentro da
minha gaiola, eu abro a portinha e te deixo sem teto.

Parei de escrever como uma terrorista. Sequestrar atenção com bombas de
sinceridade. Liberar elogios como se fossem reféns. Exigir pelo megafone um
amor incondicional e um helicóptero (porque todo sequestrador que se preze
quer um helicóptero). E quando a fuga falha, eu confo sem tortura, todo meu
amor. Só não consigo dizer o que eu não gosto. Me contorço a cada
eletrochoque, tentando a última barganha: eu faço você se sentir bem consigo
mesmo e você gosta mais de mim.
Ainda bem que nem sempre funciona. Ou agora eu poderia estar no meu barco
de salvação preferido: o relacionamento sério. O clube fechou. Não haverá mais
e-mail de madrugada.

Não haverá revelação. Não haverá confissão. Não haverá
poema de aspartame.
Não é que eu não esteja escrevendo. Listo tudo que eu gosto em um. Dou
replay nos movimentos do outro. Re-significo todas as coisas que me falaram.
Na minha cabeça, vocês são fascinantes, vocês deviam ver. Mas agora, escrevo
tudo isso pra mim. Porque eu não sei outra maneira de entender as partes
obscuras da vida. E o que há de mais obscuro no mundo que o coração de um
homem?

Eu adorava escrever carta. Era só um pedaço de papel mas me embrulhava
pra presente. Me desdobrava como um mapa. Doava todos os meus pertences,
como num testamento. Mas parei. Porque eu não sou um presente, eu não posso me dar. Eu não sou uma guia, eu não posso te levar num passeio turístico pela minha alma. E o testamento, veja bem, eu não morri
ainda. Estou viva e sou uma escritora. Não uma terapeuta.

Então a partir de agora, minha escrita é pelo ofício da escrita. Não pra fazer
homens inseguros, confusos e indisponíveis se sentirem melhores sobre si
mesmos. Parei de trair a minha escrita com vocês. E se os colegas não
conseguem me entender por conta própria, simplesmente significa que nenhum
de vocês é o cara. O cara que um dia vai olhar pra esse emaranhado amorfo e
confuso que eu chamo de coração e dizer, sem pestanejar: é você.

Não haverá atalho. Não haverá fermento. Não haverá carta coringa. Não haverá leite morno pra disfarçar meu gosto amargo, seja corajoso. Parei de me traduzir, seja autodidata. Parei de pregar os benefícios do meu afeto, tenha um pouco de fé. Parei de explicar que eu sou uma boa pessoa. Olha nos meus olhos e você vai saber. Sério, tá
bem aqui.
Parei de tentar me provar.
Prove-se você pra mim.

(Andrea Yagui)




às vezes a gente vai querer mudar de pele, de horizonte, de coração. uma manhã, depois de aguentar muitos dias ruins, iremos querer mudar de rota. de caminho. de pessoas. e relações. de faculdade, às vezes Estado, e até país.
e nesses dias, mais duros e cinzentos, você vai se lembrar desse texto aqui porque ele é pra te dizer que você, eu, todos nós, estamos existindo da melhor maneira que podemos. eu juro pra você que todas as vezes que você se sente fraco, uma estrela lá no céu resguarda tua pele. algum Deus intercede por você. algum amigo, familiar, ou até estranho, agradece sua existência.
hoje eu agradeci por você existir. foi enquanto eu lavava a louça e percebia que minha companhia era o poste mais luminoso de todo o bairro. e sorri, depois de tomar um café, depois de conseguir fazer minha própria comida, depois de escrever sobre como o amor salva. e ele salva mesmo. o amor, a resiliência.
resiliência, pra mim, é justamente quando a gente tá nas últimas já, quase desistindo, e vem algo-alguém-alguma-coisa e nos empurra. aquele empurrãozinho pra gente chegar no dia seguinte e dizer: eu sou do caralho! eu vou enfrentar esse mundão e nada vai me impedir.
pois é. nada pode impedir você de crescer. de amadurecer a pele, o coração, as certezas. porque eu te juro que toda dor só aparece porque depois vem coisa boa. minha mãe previa chuva no dia seguinte quando as estrelas se movimentavam e o céu transformava-se. ele ficava limpinho e eu sabia que era pra anunciar alguma coisa.
e lembra que eu te disse no começo desse texto que estamos dando nosso melhor?
e estamos. hoje pode ter sido o pior dia da sua vida. e se você está aqui, lendo isso, significa que a resiliência está tatuada na tua pele. que ela está agindo sobre você e te permitindo viver mais um dia, respirar mais um pouco, sentir o ar novamente.
o ar que passa na sua janela agora. o mar do final de semana. o sol que vai cumprimentar seu corpo amanhã. as conversas, o bar, a cerveja gelada, aquele livro que você quer tanto comprar, uma-nova-pessoa se abrindo pra você. você mesma, sendo essa nova pessoa.
tá me entendendo?
o mundo gira. o universo cresce. pessoas vão e vêm. a vida é um céu que às vezes chove muito pra no outro dia vir calmo, manso e limpo. e vice-versa.
e eu só queria te lembrar isso mesmo.
que você está no caminho. que todos nós estamos.
sendo retrabalhados pela resiliência do agora, do enquanto-está-acontecendo
do amanhã-dias-melhores virão
porque eles vêm! eles vêm
e eu agradeço, de novo, tua existência.
agradeça que você está vivo também.

(Não encontrei o nome do autor)

Se não fossem as gargalhadas nos momentos exatos, a voz calada em outros. Se não fosse a maneira que acariciaram o seu cabelo e depois se ausentaram ou a maneira que lidaram com algo em você que antes ninguém nunca soube lidar. se não fosse as quedas, as escolhas, certas ou erradas, mas feitas por você mesma.
Você não seria você!
Todas as conexões feitas entre as suas células nervosas e a maneira que você reage frente às situações é resultado de todas as suas experiências vividas...
Então abrace as suas cicatrizes!
Elas também tornaram você o mais você possível!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Sarah Westphal