domingo, 28 de fevereiro de 2010

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"Hoje aprendi que é preciso deixar que a vida te despenteie, por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade...
O mundo é louco, definitivamente louco...
O que é gostoso, engorda.
O que é lindo, custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia...
- Fazer amor, despenteia.
- Rir às gargalhadas, despenteia.
- Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
- Tirar a roupa, despenteia.
- Beijar à pessoa amada, despenteia.
- Brincar, despenteia.
- Cantar até ficar sem ar, despenteia.
- Dançar até duvidar se foi boa idéia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível...
Então, como sempre, cada vez que nos vejamos eu vou estar com o cabelo bagunçado... mas pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.
É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir.
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável,toda arrumada por dentro e por fora.
O aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença:
Arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça, coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique séria... e talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenho que me sentir bonita...
A pessoa mais bonita que posso ser!
O único, o que realmente importa é que ao me olhar no espelho, veja a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as mulheres:
Entregue-se,
Coma coisas gostosas,
Beije,
Abrace, dance, apaixone-se, relaxe,
Viaje, pule, durma tarde, acorde cedo,
Corra,
Voe,
Cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável!
Admire a paisagem, aproveite, e acima de tudo, deixa a vida te despentear!
O pior que pode passar é que, rindo frente ao espelho, você precise se pentear de novo... "

A FORÇA DE NOSSOS PÉS...


Desde o dia em que tu nasceste, criei a ilusão que poderia caminhar por ti. Imaginei que colocaria teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranqüilos e seguros.

Dessa maneira, tu nunca feririas teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar. Isso seria eternamente minha responsabilidade.

…e foi assim durante um bom tempo, caminhei por ti, para ti. De repente, o tempo veio me avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias. Teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus, daí quando eu menos esperava eles escorregaram e alcançaram o solo.

Hoje sou obrigado a vê-los trilhar caminhos nos quais os meus jamais os levariam e ainda tento detê-los insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo.

Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus e em certos momentos teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los. Atualmente, assisto aos teus tropeços sempre pronto para levantar-te das tuas quedas. Por vezes, tu me estendes tuas mãos em busca de socorro, outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.

Assim vamos vivendo e sinto uma saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzi-lo, pois era bem mais fácil suportar teu peso sobre meus pés, do que sobre meu coração. No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia.

Percebo, finalmente, que em algum momento tu precisaste mesmo desbravar teus caminhos independente de mim…

…como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos. Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás porque plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso, o amor!


Somos seres preocupados em agir, fazer, resolver, providenciar. Estamos sempre tentando planejar uma coisa, concluir outra, descobrir uma terceira.

Não há nada de errado nisto – afinal de contas, é assim que construímos e modificamos o mundo. Mas faz parte da experiência da vida o ato da adoração.

Parar de vez em quando, sair de si mesmo, permanecer em silêncio diante do Universo.

Ajoelhar-se com o corpo e com a alma. Sem pedir, sem pensar, sem mesmo agradecer por nada. Apenas viver o amor calado que nos envolve. Nestes momentos, algumas lágrimas inesperadas – que não são nem de alegria, nem de tristeza – podem jorrar.

Não se surpreenda. Isto é um dom. Estas lágrimas estão lavando sua alma.

Paulo Coelho

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Odeio mentiras....


“Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”.
(Winston Churchill)
...decifra-me, mas não conclua... eu posso te surpreender !!!!
(Victória Cosner)
" Para aqueles que crêem, nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que não crêem, nenhuma explicação é possível. "
(St. Inácio de Loyola)

Quero voltar a confiar....

Fui criado com princípios morais comuns:Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração.Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto.
Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades…Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade…Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror…Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos.Por tudo o que Meus netos um dia enfrentarão.Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos.Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto…Anistia para corruptos e sonegadores…
O que aconteceu conosco?Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas.Que valores são esses?O que vais querer em troca de um abraço? A diversão vale mais que um diploma?Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa.Mais vale uma maquiagem que um sorvete.
Mais vale parecer do que ser…Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?
Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores!Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão!Quero a honestidade como motivo de orgulho.
Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho.Quero a vergonha na cara e a solidariedade.Quero a esperança, a alegria, a confiança!Quero calar a boca de quem diz: “ temos que estar ao nível de…”, ao falar de uma pessoa.Abaixo o “TER”, viva o “SER”E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da manhã!E definitivamente bela, como cada amanhecer.Quero ter de volta o meu mundo simples e comum.Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases.Vamos voltar a ser “gente”A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito...Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.Utopia?Quem sabe?...Precisamos tentar… Vamos fazer um mundo melhor!!!
(Arnaldo Jabor)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ALMA GÊMEA...


“... a alma, antes de voltar à Terra, bebe da água do esquecimento, porém, o reencontro de almas que já se amaram anula, por breves momentos, esse efeito; o amor de 'almas gêmeas' não morre jamais, acompanhando o infinito ciclo das reencarnações". (Pitágoras)

Como se fosse a última vez...


Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso,onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.

Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos.

Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.

De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

Vinícius de Moraes
Crônica "Separação", do livro "Pra Viver um Grande Amor"

Convenção dos feridos por amor....

Convenção dos feridos por amor
Disposições gerais:

A – Em se considerando que está absolutamente correto o ditado “tudo vale no amor e na guerra”;

B – Em se considerando que na guerra temos a Convenção de Genebra, adotada em 22 de agosto de 1864, determinando como os feridos em campo de batalha devem ser tratados, ao passo que nenhuma convenção foi promulgada até hoje com relação aos feridos de amor, que são em muito maior número;

Fica decretado que:

Art. 1 – todos os amantes, de qualquer sexo, ficam alertados que o amor, além de ser uma benção, é algo também extremamente perigoso, imprevisível, capaz de acarretar danos sérios. Conseqüentemente, quem se propõe a amar, deve saber que está expondo seu corpo e sua alma a vários tipos de ferimentos, e não poderá culpar seu parceiro em nenhum momento, já que o risco é o mesmo para ambos.

Art. 2 – Uma vez sendo atingido por uma flecha perdida do arco de Cupido, deve em seguida solicitar ao arqueiro que atire a mesma flecha na direção contrária, de modo a não se submeter ao ferimento conhecido como “amor não correspondido”. Caso Cupido recuse tal gesto, a Convenção ora sendo promulgada exige do ferido que imediatamente retire a flecha do seu coração e a jogue no lixo. Para conseguir tal feito, deve evitar telefonemas, mensagens por internet, remessa de flores que terminam sendo devolvidas, ou todo ou qualquer meio de sedução, já que os mesmos podem dar resultados a curto prazo, mas sempre terminam dando errado com o passar do tempo. A Convenção decreta que o ferido deve imediatamente procurar a companhia de outras pessoas, tentando controlar o pensamento obsessivo “vale a pena lutar por esta pessoa”.

Art. 3 – Caso o ferimento venha de terceiros, ou seja, o ser amado interessou-se por alguém que não estava no roteiro previamente estabelecido, fica expressamente proibida a vingança. Neste caso, é permitido o uso de lágrimas até que os olhos sequem, alguns socos na parede ou no travesseiro, conversas com amigos onde pode-se insultar o antigo(a) companheiro(a), alegar sua completa falta de gosto, mas sem difamar sua honra. A Convenção determina que seja também aplicada a regra do Art. 2: procurar a companhia de outras pessoas, preferivelmente em lugares diferentes dos freqüentados pela outra parte.

Art. 4 – Em ferimentos leves, aqui classificados como pequenas traições, paixões fulminantes que não duram muito, desinteresse sexual passageiro, deve-se aplicar com generosidade e rapidez o medicamento chamado Perdão. Uma vez este medicamento aplicado, não se deve voltar atrás uma só vez, e o tema precisa estar completamente esquecido, jamais sendo utilizado como argumento em uma briga ou em um momento de ódio.

Art. 5 – Em todos os ferimentos definitivos, também chamados “rupturas”, o único medicamento capaz de fazer efeito chama-se Tempo. Não adianta procurar consolo em cartomantes (que sempre dizem que o amor perdido irá voltar), livros românticos (cujo final é sempre feliz), novelas de TV ou coisas do gênero. Deve-se sofrer com intensidade, evitando-se por completo drogas, calmantes, orações para santos. Álcool só é tolerado em um máximo de dois copos de vinho por dia.

Determinação final:
Os feridos por amor, ao contrário dos feridos em conflitos armados, não são vítimas nem algozes. Escolheram algo que faz parte da vida, e assim devem encarar a agonia e o êxtase de sua escolha.
E os que jamais foram feridos por amor, não poderão nunca dizer: “vivi”.Porque não viveram.

Paulo Coelho

Saber viver...


Não sei... Se a vida é curta
ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido, se não tocamos o
coração das pessoas.

Muitas vezes basta ter:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
Mas que seja intensa,
verdadeira, pura...
Enquanto durar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aposto que só está faltando o laço!


::
Rosana Braga ::

Chega de esperar! Chega de acreditar que haverá uma hora mais segura para criar laços, tornar-se íntimo e oferecer o seu abraço. O que mais pode nos fazer crescer de verdade senão o investimento diário na relação com quem amamos?

Sei que nossa vida é composta por muitas áreas e diversos compromissos. A cada momento trocamos de máscara para corresponder a determinadas expectativas. Na reunião com o chefe, na educação dos filhos, na festa do amigo, na casa da mãe, enfim, máscaras que definem papéis e posturas em cada uma das tantas situações que vivemos.

Mas a felicidade, a alegria de viver e o que verdadeiramente nos preenche jamais estarão nas máscaras, e sim na nossa essência. Somos feitos de laços e abraços. Só podemos ser preenchidos com sentimentos, emoções, amor. Nada mais!

Criar laços com o outro é entremear seu coração ao dele, é se desnudar e mostrar-se como você é. Sem ter vergonha de rir ou chorar. Apenas sendo você, exatamente do jeito que sabe sentir, pensar e fazer as coisas.

Os laços, embora sensíveis e vulneráveis (pois são feitos de sentimentos humanos), são os pilares que sustentam qualquer relação de amor. Sem laços não há vínculo, não há cumplicidade.

Pessoas estão morrendo de solidão e desespero por um único motivo: falta de laços. Medo de se entregar, de se mostrar e não serem aceitas. Falta de se enroscar no outro através de atitudes de afeto, carícias e cafunés. Laços são emoções fluindo de modo consciente, sabendo-se que é preciso dar para receber. São trocas recíprocas, recheadas de sentimentos.

Pessoas estão sedentas por um toque de carinho de verdade! Daqueles que provocam arrepios na alma, que afloram sensações de aproximação, de acolhimento. Gente precisa de colo que transforme o pH de sua pele e lhes dê uma nova dimensão da vida e do amor!

E os abraços... Ah! Como faltam os abraços, aqueles prolongados, inteiros, coração com coração, palpitações se misturando numa entrega de sentimentos, desejos, medos e sonhos...

Abraçar é se dar ao outro como um conforto, um alento, uma esperança. Abraços mudam a nossa vibração; são capazes de transformar uma vida toda de tristezas e abandonos.

E quantas vezes nos esquivamos de um abraço? Abraçamos cheios de medo e desconfiança, com tapinhas nas costas, com corpos distantes, com pressa para ‘desabraçar’. Morremos de medo de um abraço de verdade, como se pudéssemos nos perder no meio dele.

Dormimos com a pessoa que amamos e, muitas vezes, não encontramos espaço ou coragem para nos aninharmos ao longo de todo o seu corpo, como quem, enfim, se entrega e ama completa e definitivamente!

Laços e abraços não faltam na bagagem de quem se decidiu, enfim, viver e amar pra valer! De uma forma ou de outra, mais rápida ou demoradamente, gente que é grande no amor tem sempre um jeito especial fazer o laço com quem ama.

Aí está a primeira gritante diferença entre amor de gente grande e amor de gente pequena. O primeiro é feito de intimidade e compromisso. O segundo, de expectativas, egoísmo e máscaras.

Porque é fato: só abraça e se deixa abraçar quem está disposto a pagar o preço. O restante, aqueles que resistem teimosamente e não se deixam enlaçar, dá um jeito de se afastar, vai embora aos poucos ou de uma vez; e assim vai se encolhendo em si mesmo sem se dar conta de que a vida não espera, não pára... e cada dia a mais é uma chance a menos...

Texto adaptado do livro Faça o Amor Valer a Pena, de Rosana Braga – Editora Gente.

NÃO SEI, NÃO QUERO SABER, E QUE QUEM SAIBA NÃO ME CONTE !!!!!


:: Rosana Braga ::


Tenho observado com mais critério, ultimamente, uma situação recorrente nos relacionamentos atuais. É o desejo exagerado e a valorização equivocada que muita gente tem nutrido acerca da transparência.
Tenho ouvido várias pessoas afirmando categoricamente que preferem saber de tudo o que seus parceiros fazem, ainda que isso sirva sobretudo para dilacerar sua alma, destruir seu coração e pisotear sobre seus valores.
Isso sem falar do Orkut, um ‘site-vitrine’ exposto, por algumas pessoas, de modo leviano, e transformado num mundo de fantasias absurdas. E se não bastasse a construção diária de tamanha ilusão, milhares de pessoas se deixam influenciar por ela para fazer escolhas importantíssimas em sua vida!
É um novo e desastroso jeito de praticar o antigo voyeurismo – isto é, bisbilhotar o outro em sua intimidade. Acontece que, originalmente, a idéia é olhar para (e sentir prazer pelo) o que existe de real, enquanto que pelo Orkut, o que se vê não é – definitivamente – real e, muito menos, tem proporcionado prazer.
E o que vemos, por fim, é o resultado de desejos enrustidos e tentativas ‘mortas’, mascaradas, carentes de coragem, verdade e força para se tornarem concretas. Claro que existem vantagens de se usar o Orkut, mas é preciso maturidade para usufruir delas!
Enfim, vivemos a era da transparência, mas nem sabemos o que isso significa e para quê serve. Queremos saber da vida do outro sob a justificativa de que somos sinceros e desejamos reciprocidade, de que preferimos agüentar a dor da verdade a imaginar a hipótese de estarmos sendo feito de bobos.
O que é isso?!? Desde quando estamos prontos para uma verdade que, no final das contas, nem existe? Desde quando o humano é passível de tanta transparência?!? Não sabemos nem de nós mesmos, o que dirá do outro!!! Mudamos de idéia, pensamento e até de opinião o tempo todo e queremos que o outro nos passe relatório de seu mundo interior!!! Como assim?
E depois não entendemos por que estamos tão neuróticos, tão depressivos, tão ansiosos, tão estressados... Desejamos uma verdade sem nos darmos conta de que, para conhecê-la, precisamos antes investir em nosso amadurecimento, em nosso equilíbrio, na consciência superior de quem somos e o que temos para transparecer ao outro.
Mas, não! Simplesmente almejamos a utópica sensação de poder, de controle, de manipulação acerca do futuro e da vida alheia... e o que conseguimos? Frustração, decepção, brigas, cobranças, desentendimentos, rompimentos, lágrimas, ofensas, desrespeito e humilhações.
Não estou defendendo nenhuma das partes: nem a que constrói uma fantasia sob o rótulo de verdade e nem a que se corrói por descobri-la, como se acabasse de encontrar um mapa do ‘tesouro’. Tudo o que temos encontrado, nestas buscas insanas e infantis, está mais para bomba-atômica do que para algo que se pareça com alguma verdade ou tesouro.
Sugiro que, antes de saber, querer saber ou perguntar a quem sabe sobre o quanto o outro tem sido sincero, transparente e verdadeiro conosco, consigamos responder a nós mesmos quais são as nossas verdades, o que temos feito para ser verdadeiramente transparentes. Com que intensidade e por quanto tempo podemos manter um determinado sentimento, uma opinião ou uma circunstância...
E que todos nós, em alguma medida, seguindo o ritmo de nossa maturidade, percebamos que mais importante do que saber tudo sobre o outro é nos mantermos focados em nossas intenções, no desejo real de viver o que há para ser vivido... e a verdade do outro será apenas e tão somente uma natural conseqüência...
Que paremos, de uma vez por todas, de nos deixar influenciar por fantasias ou – pior – de investir tanto tempo construindo fantasias por conta própria, seja sobre nosso próprio mundo, seja sobre o mundo do outro.
Porque a transparência de fato não está no que ele diz ou faz, nunca! Está dentro de cada um; em cada uma das escolhas que fazemos a cada instante, e que tantas vezes nem percebemos...
Estarmos um pouco mais atentos às escolhas que temos feito e, assim, sabermos um pouco mais sobre nós mesmos, é o que realmente importa!

Sobre estar sozinho


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.

Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.

Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.

Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade..

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação,há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...


(Flavio Gikovate)