sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A MARCA QUE DEIXAMOS NAS PESSOAS
Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.
Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era “Uma informação, por favor” e não havia nada que ela não soubesse. “Uma informação, pôr favor”, poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.
Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até que pensei: O telefone.
Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse: “Uma informação, pôr favor”. Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido. “Informações”.
-Eu machuquei meu dedo…, disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.
“A sua mãe não esta em casa?”, ela perguntou.
“Não tem ninguém aqui…”, eu soluçava.
“Está sangrando?”
“Não”, respondi.
“Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo…”
“Você consegue abrir o congelador?”, ela perguntou. Eu respondi que sim.
“Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo”, disse a voz.
Depois daquele dia, eu ligava para “Uma informação, por favor” por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Filadélfia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas.
Então, um dia Petey meu canário morreu. Eu liguei para “Uma informação, por favor” e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável.
Eu perguntava: “Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?”
Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:
“Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também…”
De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.
“Informações”: disse a voz já tão familiar.
“Você sabe como se escreve ‘exceção’?” Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacifico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga.  “Uma informação, por favor” pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala.
Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Frequentemente, em momentos de duvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo. Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho.
Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos. Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi: “Uma informação, pôr favor”. Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo:”Informações”.
Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: “Você sabe como se escreve ‘exceção’?”
Houve uma longa pausa. Então, veio uma resposta suave:
“Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul”.
Eu ri. “Então, é você mesma!”, eu disse. “Você não imagina como era importante para mim naquele tempo”.
“Eu imagino”, ela disse. “E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todo os dias que você ligasse”.
Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã. “É claro!”, ela respondeu. “Venha até aqui e chame a Sally”.
Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu:”Informações”.
Eu pedi para chamar a Sally.”Você é amigo dela?”, a voz perguntou.
“Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul”.
“Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas”.
Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: “Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?
“Sim!”
“A Sally deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler para você”.
A mensagem dizia:
“Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender”.
Eu agradeci e desliguei. Eu entendi…

“NUNCA SUBESTIME A “MARCA” QUE VOCÊ DEIXA NAS PESSOAS”.
O DIA EM QUE EU MORRI
Texto de Lígia Guerra


Estranho?

Nem tanto.

Se depois de ler esse texto você achar que ainda está vivo, ótimo!
Caso contrário, é bom repensar se ainda existe algum sopro de vida aí dentro.

Vou contar como tudo aconteceu.

A minha primeira parcela de morte aconteceu quando acreditei que existiam vidas mais importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu chamava isso de humildade. Nunca pensei na possibilidade do auto abandono.

Morri mais um pouquinho no dia em que acreditei em vida ideal, estável, segura e confortável.

Passei a não saber lidar com as mudanças.
Elas me aterrorizavam.

Depois vieram outras mortes.

Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária, desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Daí em diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de pequenas mortes.

Morri no dia em que meus lábios disseram, não.
Enquanto o meu coração gritava, sim! (Nota Stela: ou vice versa....)

Morri no dia em que abandonei um projeto pela metade por pura falta de disciplina.

Morri no dia em que me entreguei à preguiça.
No dia em que decidir ser ignorante, bulímica, cruel, egoísta e desumana comigo mesma.

Você pensa que não decide essas coisas?
Lamento. Decide sim!

Sempre que você troca uma vida saudável por vícios, gulodice, sedentarismo, drogas e alienação intelectual, emocional, espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e morrer.

Morri no dia em que decidi ficar em um relacionamento ruim, apenas para não ficar só.
Mais tarde percebi que troquei afeto por comodismo e amor por amargura.

Morri outra vez, no dia em que abri mão dos meus sonhos por um suposto amor.
Confundi relacionamento com posse e ciúme com zelo.

Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis.
A pior delas? Eu mesma.

Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões.
No dia em que prestei mais atenção às minhas rugas do que aos meus sorrisos.

Morri no dia que invejei , fofoquei e difamei.
Sequer percebi o quanto havia me tornado uma vampira da felicidade alheia.

Morri no dia que acreditei que preço era mais importante do que valor.
Morri no dia em que me tornei competitiva e fiquei cega para a beleza da singularidade humana.

Morri no dia em que troquei o hoje pelo amanhã.

Quer saber o mais estranho? O amanhã não chegou.
Ficou vazio… Sem história, música ou cor.

Não morri de causas naturais.
Fui assassinada todos os dias.

As razões desses abandonos foram uma sucessão de desculpas e equívocos.
Mas ainda assim foram decisões.

O mais irônico de tudo isso?

As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real.
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas.

É dessas que me despeço.

Assinado,

A Coragem

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
  • Foi despedido do trabalho?
  • Terminou uma relação?
  • Deixou a casa dos pais?
  • Partiu para viver em outro país?
  • A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.

Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar.

Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és...

E lembra-te:

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.

Marcelo caldas