quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A sua dor é única. Não deixe ninguém nunca te dizer o contrário. Ninguém sabe o que você tá sentindo, ninguém tem idéia do que aconteceu com você, é improvável que alguém tenha vivido uma situação igual à sua... a sua dor é só sua. Não existe dor pequena e não existem lágrimas de crocodilo. A sua dor é única.A dor de perder alguém, que dói sem explicação. A dor de acabar alguma coisa, que dói no vazio. A dor de quando uma paixão escapa da gente, que simplesmente dói fisicamente no peito. A dor de um amigo que te esquece, uma dor interrogativa. A dor de cair de bicicleta, que vem sempre acompanhada de uma criança pra se admirar com seu joelho ralado e uma mãe pra passar merthiolate. A dor do parto, que não é dor. A dor de quem desiste. A dor que simplesmente dói.A dor da alma. Destroçada.Só você sabe como dói o que dói dentro de você. Só você sabe quanto tempo demora o seu luto, o seu mal olhado, o seu pesar... você decide. É uma das poucas coisas que a gente manda dentro da gente. Você sabe como fazer doer, sabe como se machucar. Tem gente que acha que a dor extermina demônios, há quem sinta alívio na dor. E tem quem a provoque como forma de se marcar, de se tatuar. Como maneira de se superar. Ainda bem que tá doendo! Isso só pode significar uma coisa: você reconhece o que te faz crescer, ou você se sente derrotado - a dor da derrota é ruim o bastante. Mas a pior dor é a que a gente não sente.É de partir o coração. É deteriorante. Deve ser até proibido, pois quando você sente dor seus amigos exigem que você se sinta bem, sua avó te força a comer, todo mundo se preocupa porque você tá sentindo alguma coisa doer. Mas a dor é sua. É sua e é única, se lembra?Se a dor é única, só deve existir um meio de acabar com ela. Um único meio... mas por que acabar com a dor? Ela te transforma num caco, derruba sua vontade de viver, faz o coração sair pela boca, contorce seu estômago, te seca e queima a pele em volta dos olhos. Você não passa de uma criança mimada que não consegue entender que não pode ter algo. A dor te destrói. E te reconstrói. Nasce um coração novo em folha, você é apresentado a uma outra pessoa. Prazer, eu sou você. Quem te gerou fui eu, com toda a sua dor. Ninguém vive se o coração tem dois pedaços. Ninguém aprende, se vestir o mesmo coração a vida toda. Mas vista um coração grande, mutante, um coração que seja alvo fácil para o que faz doer.A dor anda camuflada. Se veste de fotos, de músicas, de lugares, nomes, memórias... normalmente se esconde dobrando a esquina, ou quando você abre um livro de culinária, quando você muda de canal, onde você pensa que vai encontrar o que te ensine a esquecer.Quanta bobagem... a dor não é de se esquecer. Sinta a sua dor. Desvende seus remédios... mas não se engane achando que a cura está no trabalho ou no álcool ou em um ex-namorado. Talvez não haja a cura pra essa dor tão só sua que você anda sentindo. Se agarre à sua dor, não deixe ninguém diminuí-la. E lembre-se que a dor dos outros é diferente da sua, mas que todo mundo tem uma dor.Não fuja da dor.E se não parar de doer nunca, não deixe a dor te matar. Se cada dor é de um jeito, ainda tem muitas dores únicas pra você sentir.


Caio fernando abreu

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